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Precisamos ter um mínimo de conexão

Não precisamos ser melhores amigos, mas precisamos ter um mínimo de conexão. Escutar para compreender. É o que diz a Advogada e mediadora Debora Gaudencio, com quem conversamos recentemente sobre sobre comunicação não violenta. Pós-graduada em Neurociência e Comportamento, com curso de Inteligência Emocional na Liderança pela Harvard Extension School, Debora é a primeira mulher brasileira certificada pelo Center for NonViolent Communication – CNVC. A especialista acredita que podemos gerar conexão genuína uns com os outros. Confira abaixo a entrevista completa!

 

O que é exatamente uma comunicação não violenta?Advogada Debora Gaudencio

Debora Gaudencio - Não tem a ver com ser bonzinho, mas sim com a consciência que temos em relação aos diálogos, pode ser chamada também de comunicação consciente. Muitas vezes conectamos o termo com uma violência direta, como uma briga no trânsito, e aí pensamos: eu não sou violento porque não pratico isso. Quando a gente expande o que é violência, percebemos que existe uma violência estrutural, por exemplo, não ter acesso a uma educação de qualidade, e tem uma outra sutil que é a violência cultural. Ela está arraigada em nós desde que nascemos e muitas vezes não percebemos, mas ela nos separa do outro. Violência na comunicação é tudo o que me separa do outro. Um exemplo prático, interromper quando alguém fala, fazer diferenciação entre uma pessoa e outra, tudo isso são violências na comunicação, quando eu não tenho consciência do que está acontecendo neste diálogo.

Qual o primeiro passo em direção a essa comunicação consciente?

Debora Gaudencio - Ela está alinhada aos princípios de não violência. Um dos princípios é o da autoresponsabilidade, ter responsabilidade pelo que eu falo, então, eu vou falar a partir de mim, e não do outro. Não vou falar acusando, julgando ou rotulando, eu vou falar de mim, a partir do que é importante para mim. Tem um ditado popular que diz: quando João fala de Pedro sei mais de João que de Pedro. Só que para eu conseguir chegar nesse lugar eu preciso me olhar, compreender o que é importante para mim. Na comunicação consciente eu preciso de um movimento de olhar para mim, me escutar, processar o que está dentro mim, gerar essa compreensão comigo e, a partir daí, compreender o outro. É um processo da vida inteira.

Como aprimorar a escuta?

Debora Gaudencio - Uma prática que me ajuda a estar mais presente é gerar esse momento de autoescuta, é me escutar primeiro para poder ter espaço suficiente para oferecer uma escuta genuína ao outro. Tem uma frase que adoro que diz “muitas vezes as falas dos outros são abafadas pelas nossas próprias vozes internas”. O que eu faço na prática é escrever como estou, eu faço um diário, desta forma eu consigo olhar para trás e me entender, e isso tem uma consequência na comunicação. Mas, cada um pode achar sua estratégia para gerar esse espaço de escuta.

É um caminho para a empatia?

Debora Gaudencio - Na comunicação não violenta a empatia tem tudo a ver com a escuta. Na verdade, essa escuta ativa, generosa, presente é o que faz gerar empatia. Então, eu não ofereço empatia, eu ofereço a minha presença genuína e a empatia surge entre nós.

Dentro do ambiente corporativo o que precisa ser mais observado para uma comunicação não violenta?

Debora Gaudencio - As pessoas de uma organização formam uma comunidade, não precisamos ser melhores amigos, mas precisamos ter o mínimo de conexão nesta comunicação, para que a gente entregue nosso trabalho com resultado. Para ter esse mínimo de conexão uns com os outros, novamente, é preciso gerar esse autoconhecimento. Tudo isso, meus valores, meus sentimentos, será o material que vai sustentar a minha comunicação.

Sem essa conexão podemos colher os benefícios de um ambiente mais diverso?

Debora Gaudencio - A comunicação não violenta é uma abordagem prática para a gente conseguir ter diversidade e inclusão de verdade dentro das organizações. Não é um escutar para concordar, mas para compreender, para gerar novas ideias e crescer junto. Isso favorece um ambiente de inovação. Ambientes pautados por empatia e escuta ativa geram mais criatividade e inovação. Todo mundo tem capacidade de estabelecer uma comunicação que crie conexão, nós cérebro é modulado para isso.

Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.
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