O perigo da fome emocional 

Não é somente ficar em frente à TV com um pote de sorvete, é usar a alimentação para aplacar emoções

Publicado em: 30 de novembro de 2022  e atualizado em: 30 de novembro de 2022
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A ligação entre emoção e alimentação já foi tema de milhares de estudos, e mais do que comprovada - afinal, comida é a forma mais imediata de prazer que existe. Comeu, obteve o prêmio, instantaneamente. A Obesity Week (1), maior conferência sobre obesidade no mundo, ocorrida em 2022 em San Diego, EUA, discutiu exatamente isso e sob aspectos bem atuais. É a chamada alimentação emocional, ou comer como resposta ao estresse de estar vivendo emoções negativas. Muito é feito inconscientemente, nem percebemos que estamos reagindo com a boca - embora comer um pote inteiro de sorvete em frente à TV dê uma bela pista. (1,2)

Recompensa para o cérebro

Estudos recentes mostram que pessoas que têm escores de alimentação emocional mais elevado têm maior chance de terem obesidade, e mesmo com medicamentos para aplacar a vontade de comer, o comer como reação à emoção se sobrepõe a tratamentos, mostra estudo da Universidade de Amsterdã(1), Holanda. Nele, 60% dos avaliados e obesos estavam engajados em alimentação emocional. Ou seja, antes de um “problema” físico e médico, existe o psicológico, que deve ser tratado conjuntamente.

Compulsão não é premiada

E o pior: essa resposta rápida ao estresse ou ansiedade não é resolvida com a comida, pois logo depois vem a frustração e sentimento de fracasso (3). A compulsão não é premiada, pelo contrário, e vive-se em um círculo vicioso. Daí presumir que certo tipo de alimentação gere depressão também não é exatamente o ponto: mudar o cardápio e associar isso com exercícios, parar de fumar e de beber em excesso, podem contribuir para sair de um quadro de obesidade, e demonstram que é uma ação mais multidisciplinar que somente comer menos batata frita de um pacote (2). É uma complexa interação entre genética e meio ambiente em que se vive. (2,5)

Troque por uma fruta

O foco no psicológico pode detectar o que dispara o desejo de comer (5). Se a relação com a alimentação é emocional, quase certo que mais carboidrato, laticínios e gorduras estarão no alvo do estômago - elevando chance de doenças cardiovasculares e diabetes. Uma dica de nutricionistas é introduzir ativamente frutas no momento de “alimentar as emoções”. O hábito pode se tornar saudável.

Cinco classes

O livro “How Emotions Affect Eating: a Five-Way Model”, de Michael Macht (2008) (4), pontua cinco classes em que a alimentação está ligada a emoções. A primeira é a de que as emoções induzidas pela comida podem controlar a escolha, ou seja, você escolhe o que gosta. A segunda é que emoções intensas na verdade podem até inibir a vontade de comer. A terceira, emoções negativas ou positivas prejudicam o controle cognitivo relacionado à alimentação, o que se traduz em “você fica tão perdido que não controla o que está fazendo”. A quarta é que as emoções negativas desencadeiam alimentação como uma forma de regular as emoções. E, por fim, que nossos diferentes estados emocionais “escolhem” diferentes tipos de alimentação – ou seja, tristeza desmotiva a comer; alegria leva a pensar com mais estímulo para a alimentação. (4)

Os hábitos de vida, características de cada pessoa e seu controle emocional interferem muito na alimentação, para muito além de um cardápio rotineiro, um “gosto de feijão e arroz na terça e massa na quarta”. Esteja atento.

 

Referências: 1. Pesquisas Buscam Identificar Papel da ‘Fome Emocional’ na Obesidade. Folha de S.Paulo. Último acesso em 22 de novembro de 2022 2. Food and Mood: Is there a Connection? Harvard. Último acesso em 22 de novembro de 2022 3. Relationship Between Food and Emotions. Eat Healthy UK. Último acesso em 22 de novembro de 2022 4. Livro “How Emotions Affect Eating: a Five-Way Model”. Michael Macht. 2008. Appetite, 50(1), 1-11. 5. Você Sabe o que É Alimentação Emocional? Governo do Estado de São Paulo. Último acesso em 22 de novembro de 2022 

Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.
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