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O espírito do século 21

Se o assunto é sustentabilidade, provavelmente aparecerá na conversa o tópico ESG (Environmental, Social and Governance – Ambiental, Social e Governança).
Apesar da relevância do momento, o tema não é novo, apenas se tornou inadiável.


Conheça Carlo Pereira

Inicialmente um tema do mercado financeiro, ele abraçou lideranças empresariais e a sociedade nos debates sobre produção e consumo mais sustentável. Para conectar ESG com o dia a dia corporativo, entrevistamos o diretor Executivo da Rede Brasil do Pacto Global, Carlo Pereira. Confira!

Por que ESG tornou-se pauta obrigatória para as empresas?

Carlo Pereira - O acrônimo ESG vem de uma publicação de 2004 do Pacto Global (Who Care Wins), e foi uma encomenda do secretário da ONU, Kofi Annan, para que nós, Pacto Global, e o Banco Mundial pensássemos em uma maneira de envolver ativamente o setor financeiro na sustentabilidade. Existe um acúmulo de conhecimento ao longo dos anos e, em 2015, tivemos a explosão por conta de três agendas globais importantíssimas: a Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, a aprovação da Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) e o Acordo de Paris. As coisas começaram a se movimentar de uma maneira muito forte a partir daí. A mudança de clima entrou de maneira definitiva na agenda do setor financeiro e privado em geral. Tudo se volta para os ODSs. Com relação ao Brasil, todo esse calor que estava sendo gerado chegou aqui há cerca de três anos. As empresas já estavam olhando para essa agenda, mas ela ganhou volume.

Qual o nível de maturidade das empresas para as questões de ESG?

Carlo Pereira - Se pensar em Brasil é muito avançado. O país tem uma camada de empresas, cerca de 200, que são líderes em qualquer lugar do mundo, só que estamos falando de um país com mais de sete milhões de CNPJ. Você tem centros de excelência neste tema, mas, se olhar o mercado como um todo, há alguns obstáculos. Porém, uma coisa que temos que considerar é que o Brasil tem uma legislação ambiental e trabalhista como poucos lugares no mundo. Temos muito a avançar, mas estamos muito avançados em comparação a outros países em desenvolvimento.

Quais os desafios para a concretização dos objetivos de desenvolvimento sustentável?

Carlo Pereira - Alguns colegas criticam o chamado “climatismo“, mas eu sou do “climatismo“. Acho que temos que observar com mais cuidado. Mesmo as empresas brasileiras tratando como risco, ainda não acordaram para a questão. Outro ponto importante tem a ver com a diversidade em geral. Hoje, temos cada vez mais mulheres em cargos de liderança, mulheres negras também, se comparado há alguns anos, mas ainda estamos muito aquém. As empresas precisam tratar disso.

Para as empresas enfrentarem as questões climáticas e de diversidade, qual sua sugestão?

Carlo Pereira - O Brasil, até por uma vocação natural, tem uma matriz energética muito limpa e isso faz com que a gente consiga ter produtos com uma pegada de carbono muito menor quando comparado com outros países. Todos esses aspectos relacionados a clima têm que ser considerados na matriz de risco da empresa. Haverá um mercado global de carbono, provavelmente vamos chegar num acordo na conferência em Glasgow [Convenção da ONU sobre Mudança de Clima em novembro, no Reino Unido], vão surgir muitas oportunidades para as empresas. Desde já, precisamos pensar em como fazer novos produtos, novas plantas já considerando isso, o preço interno de carbono.

Como os colaboradores podem ser engajados nos conceitos ESG?

Carlo Pereira - Podemos pensar em vários aspectos, como o geracional. O público jovem já pensa diferente, então, para você atrair e reter talentos, você tem que entender o que eles estão querendo. Este público tem o espírito do século 21. Eles querem trabalhar com propósito, com valores, estão atentos às questões ambientais e de diversidade. Nós fizemos uma campanha* na qual uma atriz ia para uma entrevista de emprego real, mas era ela que fazia as perguntas ao entrevistador. As relações estão cada vez mais horizontalizadas, as lideranças têm que estimular o intraempreendedorismo, têm que dar voz e possibilidade para as pessoas fazerem outras coisas além do dia a dia corporativo. E ficar atento à saúde mental, hoje o Brasil figura na lista dos países com pessoas mais estressadas, e muito por conta de trabalho.

Hoje, fala-se muito em greenwashing, promoção de discursos ambientais que não são acompanhados por ações reais. Como a sociedade pode acompanhar as iniciativas das empresas? 

Carlo Pereira - O greenwashing voltou com força por conta dessa febre ESG. Como todo mundo tem que ter alguma iniciativa, alguns resolveram esticar demais a corda. Quem recorrer à besteira de fazer greenwashing hoje terá que desfazer em pouco tempo, pois estamos na era da hipertransparência, da interconectividade, cada cidadão não é só um consumidor, é também um gerador de informações. A reputação da empresa pode ser destruída em um clique. No Brasil, lançamos recentemente o Observatório 2030, uma plataforma para acompanhar os compromissos públicos das empresas. Isto estará visível para a população.

Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.
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