Ondas de calor: como proteger gestantes e bebês e quais os riscos à exposição?
Conheça medidas essenciais durante as altas temperaturas
De acordo com o Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus da União Europeia (C3S), 2023 deverá terminar ocupando o primeiro lugar no pódio dos anos mais quentes já registrados.
Com elevações de temperatura sem precedentes históricos, os últimos meses foram marcados por uma sucessão de ondas de calor, que segundo estimativas da Organização Meteorológica Mundial (OMM), devem seguir se repetindo até maio de 2024.
A adaptação fisiológica à instabilidade climática é difícil para todas as pessoas. Contudo, alguns grupos acabam mais fragilizados diante dos picos nos termômetros. Entre eles, estão justamente gestantes e bebês, principalmente os recém-nascidos.
Neste cenário, é essencial que grávidas e suas redes de apoio entendam como a situação pode afetar a gestação, bem como as melhores práticas para aliviar os incômodos relacionados ao clima quente.
Como o calor afeta as gestantes?
Durante a gravidez, é comum que a temperatura corporal fique um pouco mais alta que o habitual. Essa oscilação acontece, principalmente, por conta da dilatação dos vasos sanguíneos e de flutuações hormonais.
Por isso, os efeitos das ondas de calor podem ser sentidos de maneira mais intensa pelas gestantes. Entre os riscos que exigem atenção redobrada estão a desidratação, fadiga, tonturas, insolação e desmaios.
Além disso, outro desconforto comum é a queda de pressão arterial, sobretudo até a vigésima semana de gestação. Com o quadro, podem surgir sintomas como:
- Fraqueza;
- Tremores;
- Suor frio;
- Visão embaçada;
- Enjoo;
- Vertigem;
- Dor de cabeça.
Como as grávidas podem aliviar os sintomas do calor excessivo?
Embora as altas temperaturas sejam inevitáveis, é possível adotar algumas medidas que reduzem os incômodos e melhoram a qualidade de vida durante a gravidez.
Para começar, valem as dicas básicas: manter os ambientes bem arejados; optar por roupas mais leves e confortáveis, se possível em fibras naturais, como o algodão; e apostar em banhos frequentes para refrescar o corpo sempre que possível.
Caso não haja possibilidade de tomar uma ducha ao longo do dia, vale aplicar panos úmidos nos pulsos e no pescoço de tempos em tempos. Carregar um pouco de água em frascos spray e espirrar no rosto e no corpo também pode ser uma maneira rápida de diminuir o desconforto em situações emergenciais.
Hidratação e alimentação
A base da preparação para os períodos de calor excessivo não tem mistério: é indispensável manter a hidratação em dia e uma alimentação balanceada.
Beber muita água é imprescindível — principalmente considerando que a ingestão de líquidos deve aumentar durante a gravidez independente das condições climáticas.
Também é recomendado evitar alimentos que podem contribuir para a desidratação do organismo, como os ultraprocessados, conhecidos pelas grandes quantidades de sódio e conservantes.
Da mesma maneira, alguns ingredientes podem ser um reforço valioso para que a gestante permaneça hidratada.
Algumas frutas, verduras e legumes são muito ricas em água e despontam como grandes aliadas durante os dias mais quentes. Entre elas, estão a melancia, morango, pêssego, pepino, alface, cenoura, repolho, espinafre e abacaxi.
Cuidando da pele
Independente da intensidade do calor, as gestantes precisam ter cautela em relação à exposição solar. Isso porque a radiação ultravioleta (UV) pode intensificar o melasma.
Essa condição, também conhecida como cloasma, é caracterizada pelo surgimento de manchas escuras no rosto, causadas principalmente pelas alterações hormonais.
Para evitar ou amenizar o melasma, é fundamental aplicar protetor solar diariamente, de preferência pelo menos vinte minutos antes de sair de casa.
Mas atenção: algumas marcas desses produtos são contraindicadas para grávidas, por conta de sua composição química. Antes do uso, é importante ler o rótulo com muita atenção e discutir as melhores opções com um profissional de saúde da sua confiança.
De modo geral, os filtros solares conhecidos como físicos ou minerais são as escolhas mais seguras para mãe e bebê. Os protetores dessa categoria têm o dióxido de titânio e óxido de zinco como princípios ativos — dois componentes que fazem com que o creme fique apenas na camada mais superficial da pele, sem absorção pelo organismo.
No momento da compra, dê preferência às coberturas de amplo espectro, geralmente sinalizadas na embalagem. Essa tecnologia garante proteção tanto contra os raios UVA, que ocasionam manchas e envelhecimento prematuro da pele, quanto contra os raios UVB, responsáveis por queimaduras e vermelhidão.
Já o fator de proteção solar (FPS) mais recomendado pelos médicos fica na faixa entre 30 e 50. Assim, a gestante se protege dos efeitos nocivos da radiação sem perder os benefícios da exposição ao sol, como a produção de vitamina D.
Reduzindo o inchaço durante os dias mais quentes
Outro processo recorrente da gravidez que tende a ser acelerado pela onda de calor é o inchaço, que costuma atingir pernas e tornozelos. Em alguns casos, também pode ocorrer a formação de varizes.
Uma dica simples para atenuar o problema é manter os membros inferiores elevados sempre que possível. Ao sentar-se, vale erguer os pés com a ajuda de uma cadeira ou banquinho.
Se não houver contraindicação médica para atividades físicas leves, se movimentar com frequência também é uma boa saída, isso porque passar longos períodos na mesma posição, seja sentada ou em pé, pode fazer com que as pernas inchem ainda mais.
Cuidados com os bebês
As gestantes não são as únicas a sofrerem um pouco mais com o calor em excesso. A saúde dos bebês também fica mais vulnerável a algumas consequências das altas temperaturas, como desidratação, desconfortos respiratórios, insolação e cansaço exacerbado.
A grande complexidade é que algumas soluções comumente adotadas para prevenir esses problemas não são recomendadas para crianças com menos de 6 meses de vida, incluindo a aplicação de protetor solar e visitas a praias e piscinas.
Para manter os pequenos nessa faixa etária mais protegidos, é fundamental evitar ao máximo possível expô-los ao sol forte, principalmente entre as 10h e às 16h, quando os raios ultravioletas atingem a pele com uma intensidade maior.
As peças de roupa corretas também serão grandes aliadas durante as ondas de calor. Prefira sempre camisetas mais larguinhas feitas de tecidos como o algodão e o linho, que têm maior capacidade de absorção e facilitam a transpiração.
Outros itens, como guarda-sol, chapéus e bonés, podem assegurar um pouco mais de proteção.
Assim como no caso dos adultos, banhos frequentes também proporcionam alívio para o bebê. No entanto, é recomendável que se use apenas água do segundo banho em diante, para evitar o ressecamento da pele do bebê. Reserve os produtos de higiene para serem utilizados apenas uma vez ao dia.
Prevenindo assaduras no calor
Com a transpiração, os bebês também ficam mais sujeitos às assaduras. Assim, é necessário ter atenção redobrada com os intervalos entre cada troca de fraldas, que precisam ser ainda mais frequentes que o normal.
É importante também prevenir o acúmulo de umidade no pescoço e nas dobrinhas da criança. Além de manter esses locais bem sequinhos ao longo do dia, realizar algumas limpezas somente com água e algodão também pode ajudar.
Bebês podem ser expostos a ventiladores e ar-condicionado?
Para refrescar os cômodos, acessórios como ventiladores e ar-condicionado acabam se tornando indispensáveis. Contudo, quem tem crianças em casa precisa tomar alguns cuidados antes de ligar esses aparelhos.
No caso do ar-condicionado, a principal problemática é a redução da umidade natural dos ambientes, o que pode ressecar as vias aéreas de bebês e adultos. Isso pode ser gatilho para crises de rinite, sinusite e até mesmo asma.
Uma maneira prática de evitar essa situação é conciliar o uso com um umidificador de ar, que irá deixar o espaço menos seco e abafado.
Já para quem mantém ventiladores ligados, a recomendação é não deixar o eletrodoméstico virado diretamente para o bebê. Como crianças muito pequenas ainda não têm a capacidade de regulação térmica completamente amadurecida, alterações bruscas na temperatura ambiente podem fazer mal para a saúde.
Caso seu filho já tenha histórico de problemas respiratórios, é muito importante conversar com o pediatra que o acompanha, antes de começar a utilizar esses equipamentos.
Ondas de calor e a desidratação em bebês
Por fim, um dos principais riscos decorrentes dos picos de temperatura é a desidratação. No bebê, alguns sintomas desse quadro são ligeiramente diferentes em relação a outras fases da vida, e podem incluir:
- Irritabilidade e/ou fadiga extrema;
- Fontanela rebaixada e olhos fundos;
- Ausência de lágrimas quando a criança chora;
- Urina mais amarelada, com um cheiro forte, ou ausência de xixi há mais de seis horas;
- Sonolência;
- Alterações repentinas nos níveis de consciência;
- Pele, língua e lábios ressecados.
Caso o bebê apresente algum desses sinais de alerta, deve-se procurar ajuda médica imediatamente. Também é importante reforçar que, caso a alimentação do seu bebê seja via amamentação exclusiva, não é necessário se preocupar e nem oferecer mamadeiras com água. O leite humano já é suficiente para proporcionar toda a hidratação que o organismo necessita, porém é importante lembrar que a mãe precisa melhorar a sua hidratação. Durante os meses mais quentes do ano, os bancos de leite atuam como uma rede de apoio importante para grávidas, lactantes e bebês, promovendo ações voltadas à saúde da gestante e ao aleitamento humano seguro.
Uma dessas instituições é o banco de leite Lactare, localizado em Itapevi/SP, que atende a Zona Sul de São Paulo, região do ABC e Cotia. Junto à secretaria de saúde local, realizamos o acompanhamento durante todo o período pré-natal até a amamentação do recém-nascido.
Nossa equipe também apoia lactantes que possuem um excedente de leite, oferecendo assistência no procedimento de doação de leite humano para moradores de Itapevi e arredores.
Com esse serviço, assumimos a responsabilidade pela coleta domiciliar, armazenamento e fornecimento desse leite à UTI neonatal, desempenhando um papel crucial na preservação da vida e saúde de inúmeros bebês prematuros. Clique aqui para saber como se tornar uma doadora.
Referências: 1. Onda de calor: como proteger as crianças e bebês das altas temperaturas. Revista Crescer. Último acesso em: 11 de dezembro de 2023. 2. Onda de calor no Brasil: saiba como cuidar da saúde das crianças. Hospital Pequeno Príncipe. Último acesso em: 11 de dezembro de 2023. 3. Dicas de segurança contra ondas de calor. Unicef. Último acesso em: 11 de dezembro de 2023. 4. Heatwaves have a serious impact on infants, young children, and pregnant mothers. Unicef: Último acesso em: 11 de dezembro de 2023. 5. The Royal Women’s Hospital. Heatwave precautions for babies & young children. The Women's. 6. Extreme heat risks rise for pregnant women and babies. Reuters. Último acesso em: 11 de dezembro de 2023. 7. Extreme Heat Is a Pregnancy Health and Reproductive Justice Problem. Último acesso em: 11 de dezembro de 2023. 8. Heat Waves May Be Bad for Your Pregnancy. The New York Times. Último acesso em: 11 de dezembro de 2023. 9. Extreme heat makes pregnancy more dangerous. Yale Climate Connections. Último acesso em: 11 de dezembro de 2023. 10. Mulheres grávidas expostas ao calor podem colocar em risco a saúde do feto. BBC. Último acesso em: 11 de dezembro de 2023. 11. Onda de calor. Ministério da Saúde. Último acesso em: 11 de dezembro de 2023.