Publicado em: 8 de maio de 2025  e atualizado em: 9 de maio de 2025
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Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos e a cultura da automedicação

A automedicação é um hábito cada vez mais comum entre os brasileiros. Uma pesquisa de 2022 do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) revelou que 86% dos entrevistados admitem tomar medicamentos sem orientação profissional,1 um aumento considerável desde 2014, quando a coleta de informações teve início, que traz à tona a necessidade de conscientização sobre o uso racional de medicamentos.2

No Brasil, o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, celebrado em 5 de maio, serve como um importante alerta para os riscos associados à automedicação.2 A conscientização e a valorização da orientação profissional são importantes para reverter este cenário e garantir a saúde e o bem-estar da população brasileira.3

O estudo aponta que:

-A facilidade de acesso à internet tem influenciado esse cenário, com 68% dos entrevistados admitindo buscar informações sobre saúde online;1

-Em 2022, 51% dos brasileiros pesquisam seus sintomas em sites de buscas para essa finalidade, um aumento em relação aos 40% registrados em 2018;2

-Atualmente, 47% da população procura indicação de medicamentos em sites como o Google e 21% confiam em indicações de redes sociais;2

-Um expressivo percentual de 79% dos brasileiros com mais de 16 anos admite consumir medicamentos sem a devida prescrição médica ou farmacêutica.3

Automedicação: um hábito preocupante

O estudo apontou que a automedicação é mais frequente em casos de dor de cabeça, gripes, resfriados, febre e dores musculares. Porém, pelo menos 6% da população também recorrem a remédios para tratar problemas como ansiedade, insônia, estresse e perda de peso1,2. Esse comportamento é mais comum entre mulheres, pessoas economicamente ativas e indivíduos com maior nível de instrução, demonstrando que a falta de orientação profissional não está ligada apenas à falta de acesso à informação.1

De acordo com a pesquisa, entre os medicamentos mais utilizados sem prescrição, destacam-se os analgésicos (64%), antigripais (47%) e relaxantes musculares (35%).2

A facilidade de acesso a medicamentos isentos de prescrição (MIPs) nas prateleiras das drogarias e farmácias contribui para essa tendência. Mesmo com a presença do farmacêutico e de sua equipe qualificada para esclarecer dúvidas e orientar os consumidores, a maioria ainda opta pela automedicação, seja por receituários antigos, experiências prévias com o uso do medicamento ou por recomendações de terceiros4.

Apesar de os analgésicos/antitérmicos sejam frequentemente utilizados para o alívio de casos leves de dor, é importante estar ciente dos riscos envolvidos.4

Os perigos da falta de orientação profissional 

A prática da automedicação, embora possa parecer uma solução rápida para sintomas do dia a dia, esconde perigos. Sem a avaliação de um profissional de saúde, o uso inadequado de medicamentos pode levar a intoxicações, mascarar condições de saúde mais graves e gerar efeitos adversos inesperados. Adicionalmente, a falta de orientação profissional aumenta o risco de interações medicamentosas prejudiciais, especialmente em quem utiliza múltiplos fármacos simultaneamente.2

No Brasil, o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) registra anualmente mais de 30 mil casos de internação por intoxicação medicamentosa, com uma estimativa de 20 mil mortes anuais decorrentes dessa atitude. Dados de 2017 do Sinitox apontam que cerca de 27% das ocorrências de intoxicação no país são causadas pelo uso indevido de medicamentos, sendo 2% referentes à automedicação, um número que supera praticamente o dobro dos casos de picadas de animais peçonhentos.2

O uso indiscriminado ainda pode agravar outras doenças, como as cardiovasculares, devido ao potencial de descontrole da pressão arterial e outros fatores de risco.2

O papel das farmácias e dos profissionais de saúde no uso racional de medicamentos

O cenário apresentado reforça a importância dos profissionais que atuam nas farmácias na promoção da saúde e na prevenção de danos. As farmácias são pontos estratégicos para promover o uso racional de medicamentos, onde os farmacêuticos, como profissionais de saúde capacitados, têm um papel indispensável na orientação da população, evitando riscos e incentivando a busca por prescrições adequadas.1 Eles são a linha de frente no contato com a população e possuem o conhecimento necessário para promover o uso racional de medicamentos.3

O sistema de saúde brasileiro, culturalmente, não prevê a orientação profissional do farmacêutico sobre o medicamento que o usuário pega na gôndola. No entanto, é necessário que os farmacêuticos atuem ativamente na educação em saúde e na consulta farmacêutica, que são formas primárias de prevenção contra a automedicação inadequada. A consulta farmacêutica permite o acompanhamento farmacoterapêutico, com orientação profissional e tratamento adequados.2

É fundamental que os profissionais das farmácias estejam preparados para fornecer informações de qualidade sobre o uso racional de medicamentos, alertando sobre os riscos de interações medicamentosas, efeitos adversos e a importância da prescrição médica.2 Ao orientar os pacientes sobre a importância da consulta médica e do acompanhamento farmacêutico, os profissionais das farmácias atuam como agentes de saúde, prevenindo os danos associados à automedicação e fomentando práticas seguras e eficazes no tratamento de diversas condições.3

A dispensação de medicamentos, mesmo aqueles isentos de prescrição, deve ser acompanhada de informações claras e precisas sobre o uso correto, as possíveis interações medicamentosas e os potenciais efeitos adversos. Campanhas educativas e a disseminação de informações sobre os riscos da toxicidade e reações adversas da automedicação são ferramentas importantes para prevenir danos à saúde.4

A atuação nas farmácias, oferecendo orientação profissional qualificada, representa um agente importante contra o uso indevido de medicamentos e seus potenciais consequências negativas. Promover o uso racional de medicamentos é um esforço contínuo e uma responsabilidade compartilhada entre profissionais de saúde e a população.2

Referências:

1. ONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). Pesquisa revela que 9 entre 10 brasileiros se automedicam. 2024. Acesso em: Abril 2025. 2.ICTQ. Aproximadamente 90% dos brasileiros realizam automedicação, atesta ICTQ. 2024.Acesso em: Abril 2025. 3.ICTQ. Pesquisa automedicação no Brasil. 2018.Acesso em: Abril 2025. 4.BRAZILIAN JOURNAL OF HEALTH REVIEW. Automedicação e seus riscos.Acesso em: Abril. 

Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.
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