O sono é um estado marcado pela diminuição da consciência, redução dos movimentos musculares esqueléticos e lentificação do metabolismo. Ele tem função restauradora essencial e importante papel na consolidação da memória. É um processo neuroquímico orquestrado, envolvendo centros cerebrais promotores do sono e do despertar¹. A propensão ao sono depende de dois fatores principais: a quantidade acumulada de privação de sono e a fase do relógio circadiano (designa o período de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos), que aumenta o sono à noite¹.
Sabe-se que o sono é um estado vital e complexo caracterizado por processos ativos e altamente organizados, que pode ser distribuído em distintos estágios: sono NREM (Non-Rapid Eye Movements) e sono REM (Rapid Eye Movements)².
Em condições normais, um indivíduo inicia o sono noturno pelo estágio I do sono NREM, após um tempo de latência aproximada de 10 minutos. Após uns poucos minutos em sono I, há o aprofundamento para o sono II, em que se torna mais difícil o despertar do indivíduo. Após 30 a 60 minutos, instala-se o sono de ondas lentas, respectivamente, os estágios III e IV, com interpenetrações de ambos no decorrer desta etapa mais profunda do sono NREM. Passados aproximadamente 90 minutos, acontece o primeiro sono REM, que costuma ter curta duração no início da noite (5 a 10 minutos), completando-se o primeiro ciclo NREM-REM do sono noturno³.
A saída do sono REM pode se fazer com intrusão de micro despertares (3 a 15 segundos de duração), sem um despertar completo do paciente, mudando-se para o estágio I e, em seguida, o estágio II do sono NREM, ou passando diretamente para este último estágio e, em seguida, aprofundando-se novamente nos estágios III e IV³. Desta forma, cumprem-se cerca de 5 a 6 ciclos de sono NREM-REM, durante uma noite de 8 horas de sono³.
Os despertares podem ocorrer a qualquer momento durante o sono, a partir de qualquer estágio, seja de forma espontânea, ou eventualmente provocada por fatores extrínsecos como ruídos ou eventos patológicos, na forma de apneias. É comum que o indivíduo não tenha consciência destes despertares, especialmente quando de curta duração e não relacionados com eventos anormais (pesadelos, quadros respiratórios, etc.)³.
Na primeira metade da noite, ocorre sono de ondas lentas, estágios III e IV, em alternância com os demais estágios. Porém, o sono delta, III e IV, tende a não mais ocorrer na segunda metade da noite e no amanhecer, quando há alternância entre os estágios I, II e REM, especialmente nos adultos³. Em crianças até o período escolar, é comum a ocorrência de sono de ondas lentas ainda no final da madrugada, em geral, de menores duração e profundidade do que na primeira metade da noite³. Nos idosos, pode haver mudanças na arquitetura do sono, de tal forma que o sono IV não mais se registra, havendo redução de sono III e aumento do número de despertares noturnos. Isto explica em parte porque alguns idosos são mais sonolentos durante o dia. Por outro lado, esta não é uma regra geral e muitos idosos podem manter uma arquitetura relativamente preservada como no padrão do adulto³.
As proporções de cada estágio do sono durante uma noite típica, sem fenômenos anormais e com duração compatível com as necessidades do indivíduo são: 5 a 10% de estágio I, 50 a 60% de estágio II, 20 a 25% de estágios III e IV, em conjunto, e 20 a 25% de estágio REM. A chamada eficiência de sono compreende a proporção do tempo em que um indivíduo dorme em relação ao tempo total e que se manteve na cama para o sono noturno. É considerada normal a partir de 85%. Entretanto, uma eficiência de 100% é rara, considerando-se a presença de despertares noturnos, mesmo que inconscientes³.
Uma vez que o sono e a vigília são influenciados por diferentes estímulos de neurotransmissores no cérebro, alimentos e medicamentos que alteram o equilíbrio desses estímulos são capazes de afetar nosso nível de alerta ou sonolência ou a qualidade do nosso sono. Bebidas cafeinadas, certas drogas, medicamentos anorexígenos e descongestionantes nasais estimulam algumas partes do cérebro e causam insônia¹.
Muitos antidepressivos suprimem o sono REM. Grandes fumantes (os que fumam mais de 25 cigarros por dia) geralmente têm alteração na arquitetura do sono, com redução do sono profundo e do sono REM. Eles também tendem a acordar 3 a 4 horas depois de dormirem devido à abstinência de nicotina¹. Muitas pessoas que sofrem de insônia tentam resolver o problema com álcool. Se por um lado o álcool os ajuda a atingir mais rapidamente os estágios I e II, por outro, rouba-lhes o sono REM e os estágios III e IV, que são os estágios mais restauradores. Portanto, o álcool tende a manter o indivíduo nos estágios superficiais de sono, nos quais podem ser acordados facilmente¹.
Durante o sono REM, ocorre redução da capacidade de regulação da temperatura corporal. Por essa razão, temperaturas ambientais altas ou baixas podem interromper este estágio do sono. Se o sono REM é interrompido numa noite, nossos corpos não seguem a progressão cíclica do sono normal na próxima vez que adormecermos¹.
Fontes: 1. SONO: UM ESTADO ATIVO E DINÂMICO - BREVE HISTÓRIA DA MEDICINA DO SONO – Scielo. Último acesso no dia 14 de novembro de 2019. 2. Privação de Sono e Exercício Físico – Scielo. Último acesso no dia 14 de novembro de 2019. 3. O sono normal - Regina Maria França Fernandes – Revista Medicina USP/ Ribeirão Preto - BREVE HISTÓRIA DA MEDICINA DO SONO – Scielo.Último acesso no dia 14 de novembro de 2019.