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A força do “poder interno bruto“

Em 23 de maio de 2021, a ex-catadora de latinhas Aretha Duarte tornou-se a primeira mulher negra da América Latina a chegar ao topo do Monte Everest, a montanha mais alta do mundo, com 8.848 m de altitude. Nascida e criada na periferia de Campinas, no interior de São Paulo, Aretha mostrou-se determinada desde cedo, sendo a única pessoa de sua família a concluir o ensino superior. Foi durante a faculdade de Educação Física que conheceu o montanhismo e se apaixonou. Logo, o Everest virou uma meta, mas ela precisava de 400 mil reais para realizar o sonho. Passou a juntar material reciclado para vender e, em pouco mais de um ano, conseguiu arrecadar 130 toneladas, equivalentes a 110 mil reais. Sua história ganhou visibilidade nas redes sociais e ela conseguiu patrocínios e doações para completar o custo. Para conhecer um pouco mais de sua história, conversamos com essa atleta inspiradora sobre sonhos e gratidão. Confira!

Por que chegar ao topo do Everest?

Aretha Duarte - O sonho de escalar o Everest tem a ver com a vontade de visitar esse lugar que eu vi na foto, por mais que me parecesse distante, difícil, improvável para uma mulher preta periférica de realizar algo assim, principalmente pelo investimento financeiro que era necessário. Nada disso me limitava. Eu entendia que podia estar lá.

O que fez você acreditar que era possível?

Aretha Duarte - O custo é altíssimo, aproximadamente 400 mil reais, e está muito distante da minha realidade financeira. No entanto, acredito que eu tenho um poder, que descobri ao longo da minha vida, que chamo de poder interno bruto, um PIB que me dá potencial de sonhar e realizar. Não me importo se, neste minuto, eu não tenho todos os recursos necessários para a empreitada. Importa que esse poder me possibilita alcançar o que for necessário, com planejamento, disciplina, resiliência, fé e autoconfiança para isso acontecer. A exigência não era só financeira e física, eu precisava também ter uma experiência técnica de escalada em gelo e rocha, e uma experiência emocional. Por isso, era necessário ter passado por algumas altas montanhas. Meu PIB me possibilitou agarrar todas as oportunidades que me foram disponibilizadas e também desenvolver oportunidades para alcançar essa realização.

Quais foram seus pensamentos quando chegou ao topo do Everest?

Aretha Duarte - Uau! Como é lindo tudo isso aqui! Chegando ao topo, eu tive a certeza de que força física, mental e espiritual era necessária para essa realização tão desafiadora. Eu me senti muito amada, abençoada e, com certeza, empoderada com essa conquista.

Você conseguiu coletar 130 toneladas de material reciclável para financiar a jornada. Como foi a ajuda das pessoas nesse processo?

Aretha Duarte - Juntei os materiais ao longo de 12 meses e 15 dias, 500 quilos por dia. Eu, minha família, meus amigos e uma rede de apoio fantástica que foi formada. A meta era ambiciosa, mas essa rede de apoio possibilitou alcançá-la muito rápido. Eu buscava os materiais em casas, condomínios, empresas da região.

Você trabalha como guia de escalada. Como motiva as pessoas a conquistarem seus objetivos?

Aretha Duarte - Eu motivo as pessoas que estão indo à montanha a viverem algo novo, mesmo que seja num ambiente adverso, de modo a conquistarem aprendizados sobre elas mesmas, mostrando que a vida é cheia de adversidades e elas podem conquistar novos níveis em suas vidas por causa dessa ousadia em viver o novo. Quando elas já estão na montanha comigo, pensando algumas vezes em desistir, eu argumento que elas têm condições de seguir em frente, avaliando as condições reais do que elas estão demonstrando até ali. Passo a passo, sem pressa, sem pressão, elas vão executando a locomoção até chegarem próximo do objetivo, e ganham força para finalizar. Ao conquistarem o topo, se sentem agraciadas por uma grande experiência. 

Que mensagem você espera passar com sua conquista?

Aretha Duarte - Quando decidi escalar o Everest, eu estava preocupada com a minha realização, mas tenho percebido que essa realização gerou a sensação de uma conquista muito maior, coletiva. Então, espero que as pessoas ativem o poder delas de realizarem e conquistarem seu próprio Everest. Que se inspirem a buscar a realização dos próprios sonhos. Mesmo que o contexto seja adverso, é natural que seja, nunca será fácil ou elementar. Temos uma vida curta para ser vivida da melhor maneira possível. A gente precisa ser a nossa melhor versão diariamente, e isso inclui realizar os próprios sonhos.

Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.
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