Banco de Leite: conheça a tecnologia que salva vidas
Entenda o processo realizado desde o momento de recebimento do insumo até a distribuição e entrega do leite humano pasteurizado ao recém-nascido
A amamentação é essencial para prevenir mortes em crianças menores de cinco anos, afinal, o leite humano é superior a qualquer outro leite por ser um alimento completo e que possui todos os nutrientes que o bebê precisa, sendo de mais fácil digestão. A Rede de Banco de Leite Humano é responsável pelo armazenamento, controle de qualidade, processamento e coleta de leite materno, por meio dos bancos de leite e postos de coleta.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil possui a maior e mais complexa Rede de Banco de Leite Humano do mundo com a rBLH-Fiocruz, com cerca de 211 bancos de leite presente em 26 Estados e no Distrito Federal, e aproximadamente 160 mil litros de leite humano distribuídos, todos os anos, a cerca de 3.4Mi recém-nascidos de baixo peso internados em unidades neonatais no País (1).
Para o leite humano chegar com qualidade até o Banco de Leite mais próximo, primeiro ele é retirado da casa da doadora em um recipiente adequado, higienizado, fechado e congelado, para então ser submetido ao processo de análise, pasteurização e controle de qualidade microbiológico e físico-químico.
Tecnologia de recebimento e verificação do leite (2)
O transporte é realizado por meio de caixas isotérmicas, com gelo, para a manutenção da baixa temperatura e, assim, garantir a qualidade do leite. As caixas isotérmicas são revestidas com material impermeável, tipo PVC, para facilitar a limpeza e esterilização.
Quando o Leite Humano Ordenhado (LHO) é recebido pelo Banco de Leite, é submetido a procedimentos de degelo para realizar a verificação das condições apresentadas na embalagem, como:
- Sujidades (se não há algum resíduo incomum como unha, cabelo, pêlos, etc);
- Cor;
- Off-flavor (não conformidades, que decorrem do crescimento de micro-organismos pertencentes à microbiota secundária do leite humano);
- Acidez.
Após a verificação do leite por meio de testes, ele segue para a próxima etapa, o armazenamento, onde será acondicionado, pasteurizado, congelado, estocado e, por fim, avaliado e distribuído para os hospitais públicos enviarem com qualidade ao receptor.
Tecnologia de armazenamento no banco de leite
Embalagem
O tempo de estocagem do LHO depende de outros fatores do tipo de embalagem utilizado para acondicioná-lo. Normalmente, são utilizadas embalagens que são destinadas ao acondicionamento do LHO que são quimicamente inertes e não permitem trocas indesejáveis com o produto acondicionado, além de apresentar vedamento perfeito, impedindo contato com o meio externo, resistentes a processos de esterilização e apresentam resistência física ao estresse promovido por oscilações bruscas de temperatura (3).
As embalagens disponíveis são feitas de vidro ou material plástico para não trazer problemas de contaminação e/ou sujidades ao leite e atendem a todas as demais exigências para o acondicionamento do leite humano ordenhado (3).
Os rótulos do leite pasteurizado estocado no BLH contém as informações ou identificação que permitam a rastreabilidade e facilitem a adequação do uso às necessidades do receptor, tais como identificação da doadora, tipo do leite humano, acidez, conteúdo energético e validade do leite humano (4).
Acondicionamento
O reenvase é a etapa em que o leite humano ordenhado, cru e líquido é transferido de um recipiente para outro e o leite dentro dos critérios de seleção e classificação é envasado novamente, a fim de uniformizar os frascos e volumes a serem pasteurizados. Nesta fase, todos os frascos são mantidos em cadeia de frio, até o momento da pasteurização (5).
Pasteurização
O leite humano ordenhado destinado ao consumo de recém-nascidos, particularmente os internados em UTI, não deve apresentar microrganismos em quantidade ou qualidade capazes de representar agravos à saúde (6).
Por isso que no Banco de Leite Humano é realizada a pasteurização, que é um tratamento térmico que inativa microrganismos que podem prejudicar de alguma maneira se ingeridos (6).
A pasteurização é conduzida a 62,5ºC por 30 minutos e não esteriliza o leite, mas sim inativa 100% dos microrganismos que causam doenças, quer por contaminação primária ou secundária, além de 99,99% das microbiotas (saprófita ou normal) (6).
Congelamento do leite pasteurizado
O tempo de processamento do leite humano no Banco de Leite corresponde à soma do tempo de pré-aquecimento, acrescido do tempo de letalidade térmica (30 minutos) e do tempo de resfriamento. O volume, número e tipo de frascos utilizados também são importantes nesse cálculo (7).
Após essa etapa, o BLH realiza uma das técnicas mais aplicadas na conservação de alimentos com a finalidade de prolongar a vida útil: o congelamento (7). Mas antes do congelamento, há uma etapa de coleta de amostras para análise microbiológica.
O freezer é importante para estocagem, armazenamento e conservação, podendo ser estocado cru, antes de ser submetido ao processo de pasteurização, por até 15 dias ou já pasteurizado, após seu processamento, por até 6 meses (7).
Estocagem do leite
Depois de todos esses processos, é feito o registro da movimentação de entrada e saída dos frascos, além do controle periódico do estoque, com registro e descarte de amostras que apresentarem qualquer não-conformidade (8).
Controle de temperatura dos freezers e refrigeradores
O freezer é ideal para a estocagem, armazenamento e conservação do leite humano a uma temperatura média de -18°C. O leite também pode ser estocado cru, ou seja, sem ser submetido ao processo de pasteurização, mas nesse caso só pode ser guardado por até 15 dias (9).
Já com o refrigerador, é conservado na temperatura de até 5°C por um período máximo de 12 horas. E, o pasteurizado, é refrigerado na temperatura de até 5°C por um período máximo de 24 horas (10).
Distribuição e entrega do leite humano
Após passar por todo o processo de acondicionamento, congelamento e estocagem, o leite humano é preparado para ser distribuído a bebês internados, de acordo com a prescrição de médicos e/ou nutricionistas. Vale lembrar que o Banco de Leite deve estar vinculado obrigatoriamente a um hospital materno e/ou infantil.
O Programa Fiocruz de Certificação de Qualidade em Bancos de Leite Humano (PFCQ-BLH-SUS) para o Sistema Único de Saúde (SUS) ajuda a minimizar o risco na manipulação do leite humano coletado e processado, além de ser composto por Certificações em Recursos Humanos; de produto; de processos; da Informação; de Equipamentos; e de Instalações (11).
Receptores
São considerados receptores de leite humano pasteurizado recém-nascidos:
- Prematuros ou de baixo peso, que não sugam;
- Infectados, especialmente com enteroinfecções;
- Recém-nascidos em nutrição trófica;
- Portadores de imunodeficiência;
- Portadores de alergia a proteínas heterólogas;
- Em casos excepcionais, a critério médico, mediante justificativa médica (12) .
O Banco de Leite realiza todo o processo, desde o cadastro até a triagem dos receptores de leite humano ordenhado pasteurizado da unidade hospitalar, assim como dos receptores internados em outras unidades, quando necessário.
Dados de produção Lactare
O Banco de Leite Lactare é o primeiro banco de leite humano idealizado por uma farmacêutica. O objetivo é contribuir com a sociedade, auxiliando no aleitamento de bebês recém-nascidos prematuros e de baixo peso.
Desde o início do projeto, em agosto de 2019, o Lactare já coletou mais de 5.104 litros de leite, ajudando na recuperação de mais de 2.300 recém-nascidos internados nas UTI neonatais dos Hospitais Gerais de Itapevi, Cotia e Carapicuíba, na Grande São Paulo.
Confira os dados de produção deste ano aqui.
Como encontrar o Banco de Leite mais próximo?
Para encontrar o banco de leite mais próximo de sua residência, realize uma consulta no site da Rede Global de Bancos de Leite Humano Brasil, inserindo sua região, estado e cidade.
Se você é lactante e produz bastante leite, se inscreva em nosso Banco de Leite e ajude a salvar vidas. Cada gota conta!
Referências: 1. Brasil é referência em doação de leite materno. RBLH-Fiocruz. Último acesso: 31 de Julho de 2023. 2. Transporte do Leite Ordenhado. Fiocruz. Último acesso: 26 de Julho de 2023. 3. Embalagem para o Leite Humano Ordenhado. Fiocruz. Último acesso: 27 de Julho de 2023. 4. Rotulagem do Leite Humano Ordenhado Pasteurizado. Fiocruz. Último acesso: 27 de Julho de 2023. 5. Acondicionamento do Leite
Humano Ordenhado Cru. Fiocruz. Último acesso: 26 de Julho de 2023. 6. Pasteurização do Leite Humano Ordenhado. Fiocruz. Último acesso: 26 de Julho de 2023. 7. Congelamento do Leite Humano Ordenhado Pasteurizado. Fiocruz. Último acesso: 26 de Julho de 2023. 8. Estocagem do Leite Humano Ordenhado Pasteurizado. Fiocruz. Último acesso: 26 de Julho de 2023. 9. Controle de Temperatura dos Freezers. Fiocruz. Último acesso: 26 de Julho de 2023. 10. Controle de Temperatura de Refrigeradores. Fiocruz. Último acesso: 26 de Julho de 2023. 11. Programa de certificação de BLH. Fiocruz. Último acesso: 26 de Julho de 2023. 12. Receptores de Leite Humano Ordenhado - Triagem e Acompanhamento. Fiocruz. Último acesso em: 26 de Julho de 2023. 13. Ministério da Saúde lança campanha para incentivar doação de leite aos prematuros. Ministério da Saúde. Último acesso em: 26 de Julho de 2023.14. Aleitamento Materno. Secretaria da Saúde do Paraná. Último acesso: 31 de Julho de 2023.