Aprenda a mudar expressões racistas no dia a dia
Conheça termos que não devem mais ser usados e como substituí-los
Algumas expressões da língua portuguesa foram criadas no tempo da escravidão e incorporadas ao discurso cotidiano até os dias de hoje. Mas se o racismo é inadmissível em qualquer época, falar sem pensar certos termos é absolutamente condenável. Para esclarecer e trazer alternativas mais adequadas a todos, a Eurofarma criou um Glossário de Linguagem Antirracista.
Neste glossário, separamos alternativas mais corretas a algumas frases consideradas racistas.
Confira abaixo:
Expressão Racista | Significado | Alternativa |
A coisa tá preta | Relação entre o preto e uma situação negativa |
A situação está complicada/difícil |
A dar com pau | Expressão originada nos navios negreiros onde os capturados preferiam morrer de fome a serem escravizados. Para obrigá-los a se alimentar, um “pau de comer” foi criado para jogar angu pela boca | Bastante, muito |
Amanhã é dia de branco | Refere-se ao dia de trabalho, responsabilidades e compromissos. Uma atividade que não era atribuída aos escravos, somente os brancos | Amanhã é dia de trabalhar |
Até tenho amigos que são negros | Frase de defesa quando aponta atitude ou fala racista | Vamos repensar nosso comportamento? |
Cabelo duro/bombril |
Expressão depreciativa. A associação à marca de palha de aço se deu pelo lançamento do produto com o nome “Krespinhas” sugerindo semelhança ao cabelo crespo |
Cabelo |
Cabelo ruim | Outra forma racista de associar o que é ruim ou inferior a características negras. O que é ruim é o racismo. Vamos abdicar desta expressão? | Cabelo |
Cor de pele | Termo que designa a cor de lápis bege/rosado associado à pele branca e desconsidera outros tons | Tom/cor bege ou rosa claro |
Criado-mudo | Antigamente os escravos ficavam segurando objetos ao lado da cama de seus senhores e eram proibidos de falar. O móvel em substituição ganhou este nome inadequado | Mesa de cabeceira |
Da cor do pecado | “Elogio” proferido por pessoas brancas. Mas que contém origem na violência sexual cometida contra mulheres negras regularmente pelos senhores que encararem como diversão | Não hiper-sexualizar corpos negros |
Denegrir | “Tornar negro”. Sinônimo de difamar ou caluniar. | Difamar/caluniar |
Disputa a nega | Expressão usada para desempatar o jogo tem um cunho racista e misógino. Era comum os senhores de escravos colocarem como prêmio de jogos uma mulher negra escravizada | Não usar |
Doméstica | Palavra derivada do verbo domesticar, remete a quem foi amansado/dominado. Atos cometidos às mulheres negras escravizadas que foram torturadas para trabalharem nos casarões | Funcionária/auxiliar do lar/faxineira |
Escravo | A palavra sugere que seja uma condição inerente à pessoa, sendo que foi algo imposto ao povo africano que foi sequestrado e torturado pela escravidão | Escravizado |
Estampa étnica | No mundo da moda padrões criados segundo a concepção européia é chamado de estampa. Quando o desenho vem da África, torna-se “étnico” | Estampa africana |
Feito nas coxas | No período colonial, as telhas eram moldadas nas coxas de escravos. Como o tamanho e formato variava de pessoa para pessoa, a expressão remete a algo mal feito | Mal feito |
Índio | O termo “índio”possui uma ideia caricata que foi criada de selvageria pelos colonizadores. Também por ignorar a pluralidade dos povos indígenas | Indígena |
Inveja branca | Ideia de que o branco é algo positivo e, consequentemente, o preto remete a comportamentos negativos | Admiro o que você fez e gostaria de fazer igual |
Macumba | Na verdade, um instrumento de percussão de origem africana, palavra tem um cunho racista para nomear as oferendas aos orixás nas religiões | Oferenda / no candomblé é chamada ebó e na umbanda de despacho |
Meia tigela | Negros que trabalhavam à força nas minas de ouro e não atingiam suas metas, eram punidos com meia porção de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela” como alguém sem valor | Medíocre/mal feito |
Mercado negro/lista negra/humor negro | Expressões que carregam o simbolismo de associar o negro a algo ruim, ilegal ou inferior | Mercado clandestino/lista proibida/humor ácido |
Moreno/a | O termo é uma tentativa de “amenizar” os estigmas negativos em chamar alguém de negro. Mas o movimento negro reforça a importância e a beleza de se reconhecer negro/a e se reconectar com suas origens. Ser negro é belo e bom! | Pode chamar uma pessoa negra de negro/a ou preto/a |
Mulato/a | Provém de Mula, produto do cruzamento de cabalo com jumenta. A expressão ainda piora quando se diz “mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria | Negro/a de pele clara |
Não sou tuas negas | Provém da época em que mulheres negras eram consideradas propriedades de seus senhores e usadas para satisfazer seus desejos sexuais | Não usar essa expressão |
Nega Maluca | Personagem usada como fantasia de carnaval é uma representação estereotipada da mulher negra: descabelada, sem senso crítico e com a sexualidade exposta | Não usar essa expressão |
Nega Exótica/traços finos | Convencionou-se que para uma mulher negra ser considerada bela, deve ter traços finos próximos do padrão europeu. Ser negra é ser linda com todas as características naturais | Basta chamar só de bonita! |
Nhaca | Inhaca é uma ilha de Moçambique, país africano. O termo reforça preconceitos uma vez que designa algo com cheiro forte | Mau cheiro/cheiro ruim |
Ovelha negra | Simboliza algo ruim ou ilegal | Pessoa ruim |
Pé na cozinha/senzala |
No período colonial, o único local permitido às mulheres negras era a cozinha da casa grande. O termo se refere de forma racista a uma pessoa de origem negra | Vamos abdicar dessa expressão? |
Preto/a de alma branca |
A expressão sugere que “apesar de ser preta” a pessoa carrega características positivas que normalmente seriam associadas aos brancos |
Simplesmente dispensável |
Programa de Índio |
Expressão que define um programa ruim, mas carrega de discriminação contra povos indígenas como se fossem menos interessantes ou inferiores | Programa chato/desinteressante |
Samba do Criolo Doido |
Foi uma paródia composta em 1968 como ironia à obrigatoriedade imposta às escolas de samba de retratar somente fatos históricos. Um deboche que reforça a discriminação e se refere a coisas sem sentido e textos mirabolantes |
Confusão, trabalhada, bagunça |
Serviço de preto |
Define atividade mal feita e desqualifica o trabalho de pessoas negras | Serviço mal feito |
Tribo |
Existe um cunho pejorativo ao se referir a grupos sociais como tribos. Muitas vezes menciona-se “tribos de índios” para mostrar dizimados, primitivos, selvagens ou animais em extinção | Povos, Nação ou artigo antes do nome da Nação |
Agora que você conheceu a origem desses termos, fica mais fácil eliminá-los de seu dia a dia. Descontruir o racismo estrutural é papel de cada um de nós.
Na Eurofarma, buscamos pluralidade de perfis, gêneros, raças, orientações e identidades. Desde 2020, temos um programa de Diversidade – o Eurofarma +Diverso – que reúne quatro grupos de afinidades e uma série de iniciativas para sermos não só cada vez mais inclusivos, como diversos.