Como planejar uma gravidez saudável?
A atenção obstétrica e neonatal deve ter como características essenciais a qualidade e a humanização
A Organização Mundial de Saúde (OMS) idealiza um mundo em que todas as mulheres e recém-nascidos recebam cuidados de qualidade durante toda a gravidez, parto e período pós-natal¹. Dentro do ciclo dos cuidados de saúde reprodutiva, os cuidados pré-natais (CPN) constituem uma plataforma para importantes funções dos cuidados de saúde, incluindo a promoção da saúde, o rastreio, o diagnóstico e a prevenção das doenças¹.
A atenção obstétrica e neonatal deve ter como características essenciais a qualidade e a humanização². É dever dos serviços e profissionais de saúde acolher com dignidade a mulher e o recém-nascido, enfocando-os como sujeitos de direitos².
Atenção
O principal objetivo da atenção pré-natal e para o parto é acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando, ao fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal². Uma atenção qualificada e humanizada se dá por meio da incorporação de condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias; do fácil acesso a serviços de saúde de qualidade, com ações que integrem todos os níveis da atenção: promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante e do recém-nascido, desde o atendimento ambulatorial básico ao atendimento hospitalar para alto risco².
Na primeira consulta de pré-natal deve ser realizada uma rememoração abordando aspectos epidemiológicos, além dos antecedentes familiares, pessoais, ginecológicos e obstétricos e a situação da gravidez atual². O exame físico deverá ser completo, constando avaliação de cabeça e pescoço, tórax, abdômen, membros e inspeção de pele e mucosas, seguido por exame ginecológico e obstétrico².
Nas consultas seguintes, a rememoração deverá ser sucinta, abordando aspectos do bem-estar materno e fetal². Inicialmente, deverão ser ouvidas dúvidas e ansiedades da mulher, além de perguntas sobre alimentação, hábito intestinal e urinário, movimentação fetal e interrogatório sobre a presença de corrimentos ou outras perdas vaginais². O calendário de atendimento pré-natal deve ser programado em função dos períodos gestacionais que determinam maior risco². Deve ser iniciado precocemente (primeiro trimestre) e deve ser regular e completo (garantindo-se que todas as avaliações propostas sejam realizadas e preenchendo-se o cartão da gestante e a ficha de pré-natal)². O número mínimo de consultas de pré-natal deverá ser de seis consultas, preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no segundo trimestre e três no último trimestre². A maior freqüência de visitas no final da gestação visa à avaliação do risco de parto e das intercorrências clínico-obstétricas mais comuns nesse trimestre, como trabalho de parto prematuro, pré-eclâmpsia e eclâmpsia, amniorrexe prematura e óbito fetal² .
No primeiro trimestre (até a 13ª semana), ganhar peso não é tão importante, pois o embrião ainda é muito pequeno e as alterações na estrutura física da mãe são poucas³. Nesta fase, é considerado normal e sem riscos para o bebê tanto perder (até 3 kg), como manter ou ganhar peso (até 2 kg)³. A perda de peso, inclusive, é bastante comum, uma vez que é o momento em que as gestantes mais sofrem com náuseas e vômitos³. Do segundo trimestre em diante (a partir da 13ª semana), espera-se um ganho de peso linear até o final da gestação³. E este ganho será diferente, dependendo do estado nutricional pré-gestacional da mãe (se estava com peso adequado, baixo peso ou sobrepeso e obesidade)³.
Alimentação
A gravidez é um dos melhores momentos para se pensar em alimentação saudável, pois não só a mãe se beneficiará dela, como também, e principalmente, o bebê³. Uma mãe bem nutrida é capaz de fornecer todos os nutrientes necessários e pode proporcionar as condições ideais para o desenvolvimento de seu filho³. Há estudos atualmente que revelam, inclusive, que um desajuste alimentar intra-útero pode levar a disfunções tanto ao nascimento quanto na fase adulta, como a maior tendência à obesidade, hipertensão, diabetes etc³.
Além disso, com uma alimentação equilibrada, a mãe pode diminuir os riscos de complicações na gravidez, como ganho de peso excessivo, diabetes gestacional e hipertensão, além de poder também modular a presença de outros desconfortos típicos deste período (enjoos, constipação intestinal)³.
Recomenda-se às mulheres grávidas uma alimentação saudável e atividade física durante a gravidez, para que se mantenham saudáveis e evitem o ganho de peso excessivo¹. Uma dieta saudável durante a gravidez contém energia, proteínas, vitaminas e sais minerais adequados, obtidos através do consumo de alimentos variados, incluindo vegetais verdes e laranja, carne, peixe, feijão, frutos secos, cereais integrais e fruta¹. O ácido fólico deverá ser iniciado o mais cedo possível (em termos ideais antes da concepção) para evitar malformações do tubo neural¹.
Dicas³
- Faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por dia, evitando ficar mais de três horas sem comer. Entre as refeições, beba água, pelo menos 2 litros. Beber água entre as refeições é importante para o organismo, pois melhora o funcionamento do intestino e hidrata o corpo. Bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos industrializados, e bebidas com cafeína, como café, chá preto e chá mate, não substituem a água. Além disso, essas bebidas dificultam o aproveitamento de alguns nutrientes e precisam ser evitadas durante a gestação.
- Inclua diariamente nas refeições alimentos do grupo de cereais (arroz, milho, pães e alimentos feitos com farinha de trigo e milho), tubérculos, como as batatas, e raízes, como a mandioca – também conhecida como macaxeira, aipim. Dê preferência aos alimentos na sua forma mais natural, pois são boas fontes de fibras, vitaminas e minerais.
- Procure consumir diariamente pelo menos três porções de legumes e verduras como parte das refeições e três porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches.
- Não se esqueça do feijão com arroz. Esse prato brasileiro é uma combinação completa de proteínas e excelente para a saúde.
- Consuma diariamente leite e derivados e carnes, aves, peixes ou ovos. Retire a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes da preparação, tornando esses alimentos mais saudáveis. Leite e derivados são as principais fontes de cálcio na alimentação. Esse nutriente é necessário para o crescimento e desenvolvimento dos ossos e dentes.
- Diminua o consumo de gorduras. Fique atenta aos rótulos dos alimentos e prefira aqueles livres de gorduras trans. Reduza o consumo de alimentos gordurosos, como carnes com gordura visível, embutidos (salsicha, linguiça, salame, presunto, mortadela), queijos amarelos, salgadinhos, chocolates e sorvetes para, no máximo, uma vez por semana.
- Evite refrigerantes e sucos industrializados, biscoitos recheados e outras guloseimas no seu dia-a-dia.
- Diminua a quantidade de sal na comida. Evite consumir alimentos industrializados com muito sal (sódio).
- Evite o fumo e o consumo de álcool, pois prejudicam a sua saúde, o crescimento do feto e aumentam o risco de nascimento prematuro.
- Pratique, seguindo orientação de um profissional de saúde, alguma atividade física. A alimentação saudável, a atividade física e a prática corporal regular são aliadas fundamentais no controle do peso, redução do risco de doenças e melhoria da qualidade de vida.
FONTES: 1 – Recomendações da OMS sobre cuidados pré-natais para uma experiência positiva na gravidez. Último acesso em 24 de maio de 2019. 2 – PRÉ-NATAL E PUERPÉRIO ATENÇÃO QUALIFICADA E HUMANIZADA. Ministério da Saúde. Último acesso em 24 de maio de 2019. 3 - Orientações Nutricionais: da gestação à primeira infância. Senado Federal. Último acesso em 23 de maio de 2019.