Você sabe como fazer o uso consciente dos medicamentos?
Automedicação pode trazer riscos à sua saúde e contribuir com as superbactérias
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o uso racional de medicamentos se dá quando o paciente recebe os medicamentos apropriados para sua condição clínica, em doses adequadas às suas necessidades, por um período adequado e ao menor custo para si e para a sociedade. Mas será que realmente fazemos sempre o uso consciente de medicamentos?
Dados da própria OMS mostram que nossa realidade não é bem assim, e que, ao menos, 35% destes produtos adquiridos no Brasil são por meio da automedicação. Números da instituição também mostram que o uso de medicamentos é o responsável por 27% dos casos de intoxicação no país e que 16% do total de mortes por intoxicação é causado por medicamentos. Além dos problemas com a automedicação e intoxicações, a OMS alerta para o fato de que 50% dos medicamentos são prescritos, dispensados e/ou utilizados de forma inadequada. (1,2)
Automedicação e seus perigos (1,2)
A automedicação é o uso de medicamentos sem orientação médica, farmacêutica, odontológica ou de profissional de saúde qualificado, algo bastante comum no Brasil. Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação (ICTQ), em 2018, mostraram que as recomendações de medicamentos vindas de terceiros, como familiares, amigos e vizinhos compreendem respectivamente 68%, 41% e 27% enquanto 48% das recomendações eram de balconistas de farmácias. Esses números mostram que os principais prescritores de medicamentos são pessoas que não possuem domínio sobre o tema.
Mas devemos ficar alertas aos riscos que a automedicação e o uso indiscriminado de medicamentos podem acarretar como o autodiagnóstico incorreto, interações medicamentosas perigosas, erros comuns tanto na administração, quanto na dosagem e na escolha incorreta da terapia. Essas ações também podem mascarar uma doença grave e aumentar o risco de dependência e abuso destes fármacos. Já o uso indiscriminado de antibióticos – por um longo prazo - pode propiciar a resistência a patógenos e a ineficácia do tratamento em infecções futuras.
Uso de antibióticos x resistência bacteriana (1, 2, 3, 4, 5)
O uso em grande quantidade de antibióticos ou de forma desnecessária é uma das principais razões para a resistência bacteriana. Por isso, atualmente, uma das maiores preocupações mundiais em saúde pública são as superbactérias, ou seja, aquelas que conseguem resistir ao tratamento mesmo com o uso de uma grande quantidade de antibióticos. As que conseguem sobreviver são as chamadas de resistentes e, ao se multiplicarem, conseguem passar seu gene de resistência para suas descendentes.
Isso acarreta importantes consequências para nossa saúde como o prolongamento da doença, aumento da taxa de mortalidade e a ineficácia dos tratamentos. Dados da OMS apontam que 10 milhões de pessoas podem morrer até 2050 por conta da resistência ao uso de antibióticos. O uso indiscriminado destes produtos, ao longo de décadas, tem provocado uma resistência a estes medicamentos e estimulado o desenvolvimento de novos antimicrobianos, o que é um processo complicado e caro.
Vale ressaltar que os antibióticos não são eficazes no combate a vírus, o que significa que não devem ser usados no tratamento, por exemplo, de gripes, resfriados ou qualquer outra infecção viral.
Como fazer o uso consciente dos medicamentos (1, 6)
Medicamentos sempre devem ser utilizados com responsabilidade e a sua segurança e a do seu tratamento devem ser sempre prioridades. Para que seu uso seja consciente, é preciso seguir algumas recomendações. São elas:
- Sem prescrição, utilize apenas medicamentos de venda livre e busque sempre orientação do farmacêutico;
- Não utilize a automedicação se faz uso regular de outros medicamentos;
- Tire todas as suas dúvidas na consulta (como restrições e reações que o medicamento pode causar ou o que fazer caso esqueça de tomar a dose no
horário certo); - Ao usar um medicamento, confira se é de fato o que foi receitado;
- Verifique a dose a ser utilizada, intervalo entre elas e como tomar (com alimentos ou não, antes ou depois das refeições, entre outros.);
- Leia as recomendações de armazenagem da bula. Proteja os medicamentos da luz, da umidade e do calor;
- Mantenha os medicamentos em sua própria embalagem (caixa) e com a sua bula;
- Mantenha sempre os medicamentos fora do alcance de crianças e de animais;
- Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico ou farmacêutico, leia a bula ou busque esclarecimentos com a empresa farmacêutica responsável pelo medicamento.
Cuide do descarte (1)
A falta de informação leva muitos consumidores a descartar medicamentos vencidos ou sobras no lixo comum (doméstico) ou na rede de esgoto, despejando-os em pias e vasos sanitários. Mas essas substâncias químicas podem contaminar solo e água, colocando em risco o meio ambiente. Além do risco de contaminação ambiental, um medicamento descartado inadvertidamente pode expor outras pessoas a riscos e danos desnecessários como ingestão acidental e intoxicação. Por isso, é fundamental que os resíduos sejam descartados de forma correta e segura. Entre em contato com a Vigilância Sanitária para obter informações sobre pontos de descarte correto de medicamentos em sua cidade.
Lembre-se sempre de que os medicamentos devem ser utilizados com responsabilidade e que sua segurança deve ser prioridade. Faça o uso consciente destes produtos. Esses cuidados são essenciais para a segurança de todos!
Referências: 1. Manual sobre o uso racional de medicamentos e descarte consciente – Eurofarma – Último aceso em 07/08/2022; 2. Uso indiscriminado de medicamentos e automedicação no Brasil – Centro de Informação de Medicamentos -CIM – Departamento de Ciências Farmacêuticas -DCF- Universidade Federal da Paraíba – UFP - Último acesso em: 03/08/2022 / 3. Consumo de medicamentos: um autocuidado perigoso – Conselho Nacional de Saúde- Último acesso em: 03/08/2022; 4. CRF/AL alerta sobre o uso indiscriminado de antimicrobianos – Conselho Regional de Farmácia de Alagoas – CRFAL – Último acesso em: 03/08/2022; 5. Uso indiscriminado de antibióticos – Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo – CRFSP – Último acesso em: 03/08/2022; 6. Uso racional de medicamentos (Ana Leda Ribeiro da Rocha – Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu como requisito para obtenção de título de Especialista em Tecnologias Industriais Farmacêuticas) – Rio de Janeiro – Abril 2014 – Último acesso em: 03/08/2022.