Os primeiros anos de vida são um período crítico para o desenvolvimento de preferências por alimentos e sabores
A obesidade é uma doença crônica cujo avanço tem se dado de forma acelerada em todo o mundo nos últimos anos¹. No Brasil, a situação não é diferente¹. Estima-se que mais de metade da população brasileira esteja com excesso de peso ou obesidade¹. É provável que mudanças ambientais – por exemplo, em nutrição e estilo de vida – sejam as principais responsáveis pela atual epidemia de obesidade, uma vez que um conjunto de genes não pode modificar-se em menos do que uma geração².
Para a abordagem do excesso de peso e da obesidade na infância, é de suma importância a identificação de fatores de risco para o seu desenvolvimento e definição de intervenções apropriadas visando a prevenção e o manejo desta doença¹. Os fatores de risco para desenvolvimento de obesidade na infância são: prematuridade, bebês pequenos para idade gestacional (PIG), bebês grandes para idade gestacional (GIG), filhos de mães diabéticas, pais obesos, interrupção precoce do aleitamento materno e introdução inadequada da alimentação complementar, com oferta de alimentos ricos em gorduras e açúcares e o uso de leite de vaca antes de um ano de idade¹. Além dos determinantes biológicos, a forte influência do ambiente no desenvolvimento da obesidade infantil também deve ser considerada, e medidas que incidam no ambiente alimentar devem ser desenvolvidas e apoiadas¹.
Os primeiros anos de vida são um período crítico para o desenvolvimento de preferências por alimentos e sabores, para a capacidade de autocontrole na ingestão de alimentos, para a transmissão de crenças culturais e familiares sobre alimentos e alimentação, e para a suscetibilidade a sobrepeso e obesidade mais tarde². O sobrepeso nos primeiros meses de vida tende a aumentar o risco de sobrepeso na média infância, e esse risco parece aumentar com a idade². Aos 4 ou 5 anos de idade, a obesidade é preocupante porque tende a persistir².
Alimentação
Quando pensamos nas causas da obesidade na infância, devemos ir lá no início de sua vida³. O aleitamento materno é, sem dúvida, o grande fator protetor³. O bebê se alimenta de um leite apropriado a todas as suas necessidades e, o que é importantíssimo como proteção contra a obesidade, aprende a controlar seu apetite e sua saciedade, pois mama quando quer, o quanto precisa e para quando está saciado³.
Na fase de introdução dos alimentos complementares deve-se continuar respeitando a fome e à saciedade da criança³. A partir de seis meses, a criança já começa a manifestar suas vontades, e mostra quando já comeu tudo que precisava³. Neste período, também já não tem o apetite voraz do bebê pequeno, passa a se interessar pelo meio que a cerca, adquire autonomia progressiva e aprende a negar, pois passa a ter consciência de ser um indivíduo³.
Além disso, seu crescimento sofre desaceleração progressiva, já não precisa ganhar tanto peso quanto nos primeiros meses³. Quando se força uma criança a se alimentar mais e mais, e muitas vezes se usa toda forma de subterfúgios para tal, como, por exemplo, trocando alimentos saudáveis por qualquer coisa que a criança consiga ingerir, pode-se estar contribuindo para a obesidade³. Geralmente estes alimentos substitutos de uma refeição saudável são muito calóricos, ou de fácil ingestão pela criança e, o que é pior, passam a mensagem de premiação³. A criança entende que a “comida saudável” é o castigo, e a “outra” o prêmio. Leva esta mensagem para o resto de sua vida³.
Outro ponto importante é o exemplo: a partir de um ano de idade, a alimentação da criança deve ser a da família³.
Prevenção e tratamento
Os primeiros anos de vida são assim fundamentais para a prevenção da obesidade³. Sabemos que a obesidade é cada vez mais frequente devido ao estilo de vida moderno, onde temos facilidade para a aquisição de alimentos, aliada à vida sedentária³. A obesidade geralmente vem junto do sedentarismo, e um perpetua o outro³. A melhor forma de tratamento é sempre a prevenção, através de hábitos de vida saudáveis para a família toda, notadamente no que se refere à alimentação e à atividade física³.
Atividade física deve fazer parte do dia a dia e é importante diminuir horas de televisão, videogame e computador³. A televisão, além do sedentarismo, é veículo da mídia para os alimentos não saudáveis e até para o fumo e bebidas alcoólicas, que vem se somar à obesidade como fatores de risco para outras doenças³. Quando se suspeita de obesidade na criança, o melhor é procurar um pediatra, que vai avaliar a possibilidade da doença³.
As estratégias para a prevenção da obesidade infanto-juvenil devem se basear em¹:
- Desenvolvimento de ações educativas de promoção da alimentação saudável desde o pré-natal;
- Promoção do aleitamento materno;
- Introdução adequada de alimentação complementar, de acordo com as recomendações técnicas;
- Estímulo ao conhecimento sobre a importância da atividade física e práticas corporais no desenvolvimento da criança e do adolescente;
- Promoção de atividades físicas lúdicas e recreativas;
- Observação do comportamento sedentário;
- Promoção adequada de horas de sono;
- Controle do tempo de tela a que crianças e adolescentes estão submetidos (TV, tablet, celular e jogos eletrônicos);
- Identificação dos pacientes de risco.
Fontes: 1. Manual de diretrizes para o enfretamento da obesidade na saúde suplementar brasileira. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Último acesso em 21 de junho de 2021.. 2. Obesidade infantil.Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância. 2011. Último acesso em 21 de junho de 2021.. 3. Obesidade para leigos. Sociedade Brasileira de Pediatria. Último acesso em 21 de junho de 2021..