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Diversidade na prática

Está na hora de parar de falar e começar a fazer a diversidade na prática. Essa é a opinião da executiva Liliane Rocha, especialista em Sustentabilidade e Diversidade em grandes empresas, com quem conversamos sobre o tema. Liliane é autora do livro “Como ser um líder inclusivo”, e cunhou e consolidou o conceito diversity washing – Lavagem da Diversidade – no Brasil desde 2016. É reconhecida por três anos consecutivos como uma das 101 Lideranças Globais de Diversidade e Inclusão pelo World HRD Congress. Confira!

Você teve uma infância difícil em São Paulo. Como foi conquistar o espaço que ocupa hoje, sendo referência em diversidade?

Liliane Rocha - Como a maioria da população negra no Brasil, vivi uma infância pobre. Morei em barraco, pedi dinheiro nas ruas, minha primeira infância foi bem vulnerável. Com os anos, fui estudando e valorizando muito o estudo. Na pós-adolescência, consegui entrar em uma faculdade e passei como concursada em um serviço público na área da saúde hospitalar. Começo a dar uma guinada na minha vida ao me formar e trabalhar em grandes empresas, e a entender que práticas que eu já fazia no dia a dia relacionadas com questões de meio ambiente, sociais e diversidade poderiam ser empenhadas dentro de corporações.

Você trabalhou em multinacionais, sentiu na pele a questão do preconceito e da desigualdade de oportunidades?

Liliane Rocha - Sempre comento que só entrei na minha primeira grande multinacional, em uma empresa do setor de eletrônicos, em 2005, porque essa empresa já tinha um programa de diversidade e inclusão. Naquele momento, a primeira questão que me impactou foi a de renda, porque, quando você tem renda muito diferente de todas as outras pessoas de um lugar, o seu repertório é muito diferente, e isso, às vezes, vira uma falta de diálogo. Então a primeira coisa que é exigida quando você é um profissional que tem alguns marcadores de diversidade é a capacidade de aprender a entrar num contexto do qual você não fazia parte, interagir, dialogar e construir relações com as pessoas, para daí conseguir exercer e trazer sua capacidade e competência no dia a dia.

Como as empresas podem ampliar a diversidade de seus colaboradores?

Liliane Rocha - A gente tem um estudo da Gestão Kairós [Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade, da qual é fundadora] que se chama Diversidade Representatividade e Percepção, um censo multissetorial que traz dados de grandes empresas no ano de 2019/2021. O que percebemos é que, mesmo falando mais de diversidade, a dificuldade é mover a régua da diversidade na prática. Todos os grupos de diversidade seguem sub-representados nas empresas. O maior desafio, hoje, é a gente parar de falar e fazer! Fazer é mais importante que falar. A gente tem que fazer a diversidade, contratar essas pessoas, lidar com os dilemas e a dúvidas na prática do dia a dia.

Conte-nos algo que as pessoas não sabem sobre diversidade nas empresas?

Liliane Rocha - Elas não sabem, eu acho, que, quando elas se recusam, de forma consciente ou inconsciente, a trazer diversidade para dentro da empresa, a serem inclusivas, elas estão perpetuando um ciclo de discriminação, de perversidade social que ninguém quer continuar chancelando. Quem somos nós se discriminamos e se não damos acesso ao trabalho. Acho que essa é a reflexão mais importante que cada pessoa precisa fazer.

Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.
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